segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Contador de Histórias

O Contador de Histórias
Uma história de um menino que adorava inventar estórias.
Narrado neste filme pelo próprio, conta a recuperação de um interno da FEBEM de Belo Horizonte rotulado de irrecuperável pela própria instituição e que se torna um dos melhores contadores de história do mundo.


Mineiro de Belo Horizonte, Roberto Carlos Ramos é mais um daqueles exemplos que desafiam a lógica do mundo moderno. Caçula de uma família humilde e podre de dez filhos teve o seu destino talhado pela decisão de sua mãe que sonhava com uma vida melhor para seus filhos. Iludida por uma propaganda da FEBEM de Belo Horizonte, uma instituição social do governo criada de 1968 que prometia um futuro melhor para menores desfavorecidos, transformando-os em médicos, advogados e dentistas. Assim Roberto foi internado aos seis anos de idade na esperança que ele de se tornar um “Doutor”.

Logo de início Roberto descobriu que todas as promessas eram falsas, encobertas por um sistema equivocado que seria responsável pela formação de marginais e não de doutores.

As crianças internadas não eram de início, nem de longe, já marginais. Elas se transformavam lá dentro, pois os seus desvios futuros eram simplesmente reflexo da maneira com eram tratadas no centro de conflito de sentimentos (uma mistura de atitudes sádicas, irônicas e apáticas). Não existia uma política educativa plausível; os professores eram policiais truculentos e ignorantes que não serviam para trabalhar na rua ou professores não tinham capacidade de trabalhar no sistema educacional comum por alguma falha, eram simplesmente transferidos para lá.

Inconformado com a situação começou a fugir; aos oito já acumulava 12 fugas em sua ficha, aos nove 48 e aos treze bateu todos os recordes de fuga, 132 vezes. A cada nova fuga Roberto era transferida de internato, percorrendo os doze existentes. Com as transferências Roberto perdeu contato com sua mãe e toda a referência de família, passo fundamental para se envolver com drogas e por consequência os roubos.

Uma característica que manteve Roberto vivo por tanto tempo foi sua capacidade inventiva e criatividade. Para ganhar o respeito dos seus companheiros, analisava com atenção o que era mais importante e que o colocaria em evidência. Criava assim ainda pequeno, mesmo analfabeto estórias fantásticas que traziam sobre si admiração e destaque.

O Contador de Histórias

A sorte, ou como ele mesmo define - uma organização de eventos onde a pessoa aproveita as oportunidades, que conforme elas sejam utilizadas podem gerar uma boa ou má sorte, começou a mudar de vida de Roberto, após ser capturado depois da fuga nº 132. Sentado em um banco a espera de mais um castigo, foi dado como o pior exemplo de criança que passou pela FEBEM a uma pedagoga francesa Margherit Duvas de férias no Brasil que visitava a instituição naquele exato momento. Indignada pelo diagnóstico de irrecuperável exalado pelas pedagogas que lhe acompanhavam, achava um absurdo um educador falar que uma criança não tem mais jeito. Pediu para falar em separado com a criança. Antes de falar de sua cor de pele, do seu mal cheiro, do cabelo empesteado de piolhos e do nariz catarrento, abaixou-se e fitou nos seus olhos e pronunciou duas palavras mágicas que jamais ninguém naquele lugar tinha lhe dirigido; Com Licença e Por Favor. Assim começou sua recuperação irrecuperável.

Mesmo assim, Roberto fugiu naquele menos dia. Mas por encanto Margherit Duvas o encontrou na rua e resolver levá-lo para sua casa. Mesmo recebendo de Margherit todo o suporte para Roberto que jamais tinha recebido até então. Foram dois anos de conflitos envolvendo consumo de drogas e outros problemas, pois Roberto não acreditava que houvesse uma pessoa que agisse com extrema bondade, sem outras intenções.

Roberto só deixou de lutar contra as mudanças somente quando Margherit teve de voltar para França e o adotou. Roberto morou por uns tempos na França onde estudou em uma escola internacional. De volta ao Brasil, se formou em pedagogia e fez questão de trabalhar na mesma instituição que tanto lhe fizera mal. Tempo depois ao perceber que o seu trabalho não iria fazer grandes diferença resolveu pedir demissão e lutar por si próprio adotando crianças abandonadas, porque acredita que a família é a fonte de todos os problemas, no entanto também é a solução. O que resgata uma pessoa é a troca de afeto, sentencia.

Hoje Roberto Carlos Ramos é uma pessoa bem sucedida na vida. Foi a primeira pessoa no Brasil a ser contratado como contador de Histórias, tamanho o seu talento. Sua fama faz que ele seja um dos mais requisitados em palestras, como o melhor contador de histórias do mundo.

Em 2009, o diretor Luiz Villaça descobriu a história de Roberto através de um livro infantil que seu filho havido ganhado de presente. Desenvolveu o projeto do filme biográfico “O Contador de Histórias”, premiado com o selo da UNESCO. Distribuído pela Warner Bros. o filme conta até com um caprichado site onde você pode passar horas se divertindo com esta fantástica história.

Roberto Carlos Ramos

Em entrevista no Programa de Televisão da TV Brasil 3 a 1 apresentado pelo jornalista e colunista político Luiz Carlos de Azevedo, Roberto contou os principais fatos de sua vida. Desta entrevista destacamos abaixo algumas perolas de sua sabedoria:

“Só há educação quando existe alguém disposto a facilitar o aprendizado e alguém disposto a aprender.”

“As pessoas só dão aquilo que lhe esta sobrando, transbordando. Se você esta cheio de ódio, você devolve ódio, assim como cheio de amor, amor. Quando as pessoas estão vazias é que elas partem para as drogas”.

“Quando você passa sete anos direto todos te negando, te negando... o thinner é maior paliativo que um menor de rua poderia usar.”
“Cada pessoa têm o seu tempo. O mal das instituições públicas é achar que um jovem aos dezoito já está pronto para enfrentar o mundo por si só.”

“Existem três efes na vida de uma pessoa que os tornam diferentes. Força (acreditar, desejar e perseguir alguma coisa), Fôlego (Para atingir alguma coisa é preciso saber respirar) e Flexibilidade (Tem de saber ser flexível para atingir o seu objetivo). Com Força, Fôlego e Flexibilidade você ser torna uma pessoa fantástica, caso contrário se você não tiver Força, terá Fraqueza, se não tiver Fôlego terá Fadiga, se não tiver Flexibilidade terá Ferrugem. Assim juntando Fraqueza, Fadiga e Ferrugem você será uma pessoa Fudida”.

dona_beija
No final da entrevista ao Programa 3 a 1 da TV Brasil, Roberto brindou com esta história:

“Existia uma mulher na pequena cidade de Araxá em Minas Gerais, chamada Dona Beija. A única coisa de Dona Beija sabia fazer era a prestação de serviços ao publico masculino da cidade. E ela montou uma chácara onde ela atendia aos homens. E os homens pagavam o seu peso dela em ouro, porque ela era muito boa no que fazia. E as moçinhas que trabalhavam com ela, perguntavam: Dona Beija porque que os homens que veem aqui só querem ser atendidas pela senhora? Dona Beija deu a receita: E que quando chega aqui um cliente, se vem aqui eu sei o que ele está querendo. Então todo que eu sei fazer bem feito, eu faço logo de cara. Tem gente que sabe fazer uma coisa bem feito mas fica guardando pra’ depois. E fala, quando eu aposentar eu faço, quando eu tiver condições eu faço, mas nunca faz a coisa bem feito, deixa sempre pra depois. Mas eu sempre faço no primeiro instante. As moçinhas começaram a fazer do mesmo jeito e o bordel prosperou. Mas tudo que está um passo a frente do seu tempo, desperta mágoa, despeito e preconceito. E não foi diferente para Dona Beija. O maior despeito veio por parte das virgens da cidade de Araxá. As fofoqueiras de plantão, que ficavam o dia todo na janela vendo o tempo passar, resolveram afrontar a Dona Beija. Pegaram uma bandeja de prata, defecaram nela, cobriram as fezes com uma toalha de renda e mandaram para Dona Beija como fosse um presente. Dona Beija ao receber a bandeja e ao levantar o lenço viu que eram fezes, mas não se abalou com isto. Mandou jogar fora as fezes, lavar e desinfetar a bandeja. Foi até o jardim colheu as mais belas e perfumadas flores, colocou na bandeja, cobriu com um lenço limpo e mandou de volta para as virgens com o seguinte bilhete; Cada um dá o que têm de melhor.”

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